Dissertação completa

VIDA E MORTE DO TEXTO JORNALÍSTICO NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA

Sandra Grzegorczyk

Esta investigação, de abordagem qualitativa e de natureza aplicada, tem por objetivo evidenciar como os professores vêm se servindo e trabalhando com os textos jornalísticos em sala de aula, em meio às inúmeras sugestões de trabalho, tendo sido necessário, para isto, levantar alguns aspectos da cultura de ensinar e de aprender com esse tipo de texto. Foram analisadas três aulas de duas professoras de Língua Portuguesa do Ensino Médio da rede pública de ensino, em que o texto jornalístico foi o objeto central. O referencial teórico, dentro de uma visão interacionista da linguagem, aborda as teorias da comunicação, em especial a cultura de massa, e da superestrutura do discurso jornalístico apresentada por Van Dijk.

Num primeiro momento, fizemos observações, gravações, e, posteriormente, transcrição e análise das aulas em que as professoras trabalharam o texto jornalístico. Num segundo momento, a fim de levantar alguns traços da cultura de aprender dos alunos, quando se trabalha com essa tipologia textual, aplicamos um questionário. E, num terceiro, entrevistamos as professoras, para delinearmos a cultura de ensinar, quando optam por essa tipologia textual, buscando cruzar com os demais dados levantados. A investigação de traços da cultura de aprender e da cultura de ensinar se justificam por influenciarem o processo de ensino-aprendizagem.

As análises apontam para dois tipos de trabalho com o texto jornalístico em sala de aula: um que, priorizando a concepção de língua como instrumento de comunicação, desenvolve-se numa prática anti-interacional, enfatizando-se as marcas estruturais do texto e utilizando-o como pretexto para o ensino de outros tópicos de conteúdo programático de língua portuguesa. Outro que, priorizando uma concepção de língua como forma de interação, aborda as questões estruturais do texto, mas privilegia a sua função sócio-comunicativa, expondo temas que levam os alunos a participarem das discussões, relacionando as questões levantadas com as experiências dos alunos. No entanto, nos dois casos, ocorrem eventos de silenciamento dos alunos ou de direcionamento da interpretação.

Um fator relevante que deve ser considerado ao se analisar a cultura de ensinar de professores de língua portuguesa, quando o trabalho é com texto jornalístico, embora possa ser estendido a qualquer outro tipo textual, é a formação profissional, a tradição de estudo, a leitura e a reflexão sobre o fazer pedagógico em direção de uma prática educativa mais criativa e interacional.