DEFESAS
RESUMO

 

Dissertação completa - Arquivo PDF

 

 

CIDADANIA, INCLUSÃO E BIOPOLÍTICA: A IDENTIDADE LINGUÍSTICA EM CONTRADIÇÃO NO PROCESSO SELETIVO VESTIBULAR DOS POVOS INDÍGENAS NO PARANÁ

 

Raquel Fregadolli Cerqueira Reis Gonçalves

 

A língua se caracteriza como referência de nacionalidade e, por isso, constitutiva da memória nacional. A institucionalização da língua portuguesa como idioma oficial do Brasil não foi pacífica, ao contrário, oficializou-se por imposições políticas obedecendo aos princípios do modelo colonialista. Nesse sentido, sendo as identidades efetivadas e mantidas por práticas culturais – língua, crenças, usos e costumes – misturam-se a decisões políticas. Diante disso, é sólido afirmar que as tendências políticas são agentes ativos na construção da cultura de uma nação, logo, as ações políticas governam também o olhar sobre o outro. Assim se reconhecem as diferenças entre as concepções que definem o indígena contemporâneo do indígena de outrora. Para tanto, ainda existem parâmetros culturais e linguísticos predominantes que servem como referencial para atribuir aos indígenas o status de brasileiros. Nessa perspectiva, a cidadania funciona como dispositivo que organiza e racionaliza as diretrizes que intentam amenizar as diferenças entre os sujeitos ao possibilitar oportunidades no âmbito educacional. A partir disso, a discussão deste trabalho se desenvolve em torno do “X Vestibular dos Povos Indígenas no Paraná” que, conforme a Lei Estadual n° 13.134/2001, modificada pela Lei Estadual n° 14.995 de 2006, permite aos índios integrantes das comunidades indígenas disputarem vagas suplementares nas Universidades Estaduais e na Federal do Estado do Paraná. Dada a integração do indígena no espaço universitário, o objetivo desta pesquisa foi o de compreender o modo como é constituída a representação e a identidade linguística do indígena nas redações desse vestibular. Sob tal perspectiva, cidadania e contradição foram categorias elementares das quais nos servimos para o estudo, a pesquisa e a prática analítica promovida. Dessa forma, perguntamo-nos quais contradições no campo linguístico, circunscrevem o indígena como diferente e incapaz distanciando-o de sua condição de cidadão. Para tanto, servimo-nos do arquivo composto pelas redações da décima edição do Vestibular dos Povos Indígenas no Paraná, realizado no ano de 2010. As reflexões teórico-metodológicas foram subsidiadas pela História, Estudos Culturais e Análise do Discurso de linha francesa e de seus desdobramentos no Brasil. Os resultados alcançados revelam que a inclusão do indígena na sociedade não indígena se efetiva no processo de reconhecimento desse sujeito como cidadão. A inclusão está pautada sob procedimentos de normalização que configuram o indígena nos parâmetros não indígenas. Desse modo, inclusão e preservação estão na contramão, dado que a inclusão se efetiva e se sustenta pelo respeito na sua plenitude. Todavia, a cultura nacional, construída sob valores colonialistas, contempla o respeito no sentido de tolerância. Assim, as relações entre indígenas e não indígenas ainda são delicadas e conflituosas, uma vez que se consolidam sob clima de tensão e contradição.

 

 

Palavras-chave: Biopolítica; vestibular indígena; identidade linguística.