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RESUMO |
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PRÁTICAS DISCURSIVO-MIDIÁTICAS SOBRE A
CORPORALIDADE NA CONSTRUÇÃO DO “HOMEM HOMEM”:
REGIMES DE NORMALIZAÇÃO E DE EXCLUSÃO Rafael de Souza Bento
Fernandes rafaelsbfernandes@hotmail.com RESUMO
“Homem HOMEM” é o modo como a marca de desodorantes
Old Spice (P&G, 2014) define seus
clientes, “machos” à moda antiga. A pesquisa, ao tomar de empréstimo essa
designação, trata das práticas discursivo-midiáticas relativas à (re)construção
do sujeito viril tendo como corpora campanhas
publicitárias e posts de mídias
digitais que tematizam o papel da centralidade masculina. A problematização que
conduz o presente estudo é: tendo em vista que a ordem do discurso vigente
pressupõe a equidade dos gêneros, por que, em práticas discursivo-midiáticas
brasileiras contemporâneas, irrompem “antigas”verdades
sobre o homem viril, “naturalmente”dominador?
Justificamos a pertinência deste estudo
pela necessidade de se trazer continuamente ao âmbito da pesquisa científica
reflexões sobre os sistemas de exclusão que instituem condutas modelares de
sujeitos. Esperamos que esses debates se concretizem em ações que possam
amenizar efeitos de práticas discriminatórias, as quais, paulatinamente, devem
ser esvaziadas. À luz da análise do discurso de orientação francesa, em
especial da teoria foucaultiana, objetivamos compreender o modo como se
constitui a subjetivação nas práticas discursivo-midiáticas sobre a
corporalidade na construção do “homem Homem”. Para tanto, em um primeiro
momento, procedemos discussão teórica sobre a análise linguística e o enunciado
em Foucault (2008). Em um segundo momento, discutimos o paradigma da
medialidade, da importação somática e dos sentidos de corporeidade no que toca
à questão das mídias digitais (BRAGA 2016; 2017). Em terceiro momento, por fim,
analisamos os corpora de acordo com o
arcabouço teórico-metodológico e princípios nocionais de virilidade (BAUBERÓT,
2013; CAROL, 2013; CORBIN, 2013; THOMASSET,
2013; THUILLIER, 2013;
VIGARELLO, 2013a, 2013b; MELO, 2013; SCHNOON, 2013) e de corpo (GÉLIS, 2011;
VIGARELLO, 2011; NOVAES, 2011; OLIVEIRA, 2011). Defendemos a tese de que a prerrogativa da equidade dos gêneros
tornou-se terreno de contestações devido a instabilidades de ordem política e
social que fazem reverberar o discurso conservador (regulado por dispositivo da
tradição) sobre o papel de centralidade masculina, reconstruindo o sujeito
viril de capacidades extraordinárias. Esse processo é alimentado por lógica
dualista, própria dos sistemas digitais de circulação enunciativa. A violência
do corpo “adâmico” masculino, revitalizado em sua constituição física (prática
do treinamento), seu papel na sociedade (prática do sustento) e dever
heterossexual da conquista (prática do cortejo) implica a exclusão. Mais que
isso: existe dela.Assumimos que, com maior ou
menor grau de assertividade, dizeres e
imagens analisados ao longo do estudo endossam problemas endêmicos do Brasil
como a agressão doméstica contra
mulheres, o estupro e a violência contra o gordo, o “imprestável” e o efeminado
(os três sistemas de exclusão postos em causa na tese). .
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