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RESUMO |
Dissertação completa - Arquivo PDF
MÍDIA E A PRODUÇÃO DISCURSIVA DE NOVAS IDENTIDADES FEMININAS NA PÓS-MODERNIDADE
Patrícia Duarte de BRITTO
Esta pesquisa dissertativa tematiza o processo de constituição identitária do sujeito feminino nas práticas discursivas em mass media contemporâneos. Com o olhar voltado para a revista impressa diversional destinada ao público feminino, buscamos vislumbrar, na sociedade pós-moderna, o modo como saberes sobre a mulher são construídos, enquanto “verdades” necessárias para que novas identidades femininas sejam firmadas. Para tanto, nos debruçamos ao estabelecimento de várias relações entre saberes, processos econômicos e sociais, formas de comportamento, sistemas de normas e técnicas, os quais nos possibilitam compreender quem é a nova mulher da pós-modernidade, quem ela diz ser e quem a mídia massiva diz que ela é. O alicerce para nossas reflexões está no entrecruzamento entre linguagem, sociedade, história e memória e, para tanto, lançamos mão, como embasamento teórico-analítico, dos estudos referentes à terceira época da Análise de Discurso erigida por Michel Pêcheux, das formulações discursivas de Jean-Jacques Courtine e, principalmente, das contribuições de Michel Foucault à teoria do discurso. Também nos fundamentamos nas reflexões de pesquisadores da Teoria de Comunicação de Massa e dos Estudos Culturais, a partir de deslocamentos oriundos dos pressupostos pós-modernos. O método arqueológico, elaborado por Michel Foucault, é o guia para nossas análises, que são norteadas pelos seguintes conceitos-chave: enunciado, função enunciativa, regularidade discursiva, arquivo, governamentalidade, memória discursiva, interdiscurso, trajeto temático, comunicação de massa, identidade, diferença, pós-modernidade, modernidade líquida, mulher-elástico, fragmentação e flutuação. Nosso material analítico forma um arquivo de dez reportagens, retiradas de quatro exemplares da revista Veja Edição Especial Mulher, veiculados nas edições de 08/2002, 08/2003, 05/2006 e 06/2008. Esse material nos direciona a organização de três trajetos temáticos, a partir dos quais é possível detectar a construção de novas identidades femininas na pós-modernidade: a) o trabalho, a mulher e seus múltiplos papéis; b) a beleza estética da mulher; c) o relacionamento amoroso entre homem e mulher. Em nosso arquivo, analisamos um conjunto de enunciados verbais, dispersos e heterogêneos, efetivamente ditos por mulheres que se subjetivam a partir de uma relação com tipos particulares de governo e autocontrole, de modo a compreenderem aquilo que são e encontrarem para si uma identidade, constituindo-se em sujeitos de suas próprias existências. Analisamos também enunciados formulados por detentores de saber de diferentes ordens. Tais enunciados, ao serem organizados pela revista, constroem imagens modelares, legitimam múltiplas identidades coletivas e determinam condutas, objetivando suas leitoras em sujeitos femininos. Nossa hipótese, confirmada em nossos resultados de pesquisa, é a de que Veja não é somente um aparelho institucional de controle que guia comportamentos, idéias, condutas, servindo como um tipo de mentor que exerce certa autoridade no que se refere à tentativa de controle dos papéis de suas leitoras. Edição Especial Mulher é, principalmente, espaço para que a mulher contemporânea, enquanto material vivo imprima em cada página sua cotidianidade, vivendo nela suas próprias práticas, técnicas, programações de conduta e disciplinas, ora se submetendo à revista, ora dela se liberando, ao se construir como sujeito e tomar consciência de si. Mediante tal hipótese, não procuramos respostas definitivas; diagnosticamos as técnicas e os processos que movem a história, constroem os discursos e constituem as novas identidades femininas em revistas impressas buscando alcançar um estado de reflexão, conscientes de que, uma vez analisado, o arquivo permanece para novas abordagens, não se esgotando em nossa interpretação.
Palavras-chave: novas identidades femininas; pós-modernidade/modernidade líquida; governamentalidade.
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