DEFESAS
RESUMO

 

 

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A AUDÁCIA DESSA MULHER: ANA MARIA MACHADO E A SUBVERSÃO

DO CÂNONE NA REESCRITA DE CAPITU

 

Leila Wanderléia Bonetti Farias

laylabonetti@yahoo.com.br

 

Essa dissertação investiga a construção das personagens femininas Bia, Capitu e Ana Lúcia, no romance A audácia dessa mulher, de Ana Maria Machado. No livro, a autora homenageia e questiona a obra de Machado de Assis, aproveitando-se de fios deixados soltos na trama do autor para construir um diálogo revelador com Dom Casmurro. Portanto, procuramos ler A audácia dessa mulher em contraponto com este romance. A partir dessa intertextualidade premeditada pela autora, buscamos compreender, de posse da teoria crítica feminista e de um panorama sobre a história das mulheres, como as duas obras, juntas, podem representar um microcosmo das transformações relacionadas ao gênero na sociedade brasileira dos séculos XIX e XX. É o que se vê na análise da forma como a mulher é representada em ambos os livros, no contraste entre a Capitu de Machado de Assis, silenciada, e a Capitu revisitada por Ana Maria Machado, personagem com poder de narrar a própria história, ou seja, de construir (ou reconstruir) a própria identidade. O ato de a mulher escrever representa, na sociedade, o que reflete na literatura: a tentativa de tomada de voz. Nesse sentido, procuramos analisar como Ana Maria Machado promove a estratégia da reescrita do texto canônico original, problematizando a questão do patriarcalismo e do autoritarismo através das contradições do próprio discurso que busca legitimá-los, ou seja, atuando nas brechas deixadas pela ideologia representada pelo narrador de Dom Casmurro e subvertendo o texto original. Dessa forma, concluímos que a obra de Ana Maria Machado foge das verdades prontas e acabadas, e opta pelo hibridismo, pois prima pela fusão de dois pólos aparentemente opostos: além de promover a resistência e a desconstrução do poder patriarcal através do revide de Capitu, a autora também constrói, através da jornalista Bia, a possibilidade de novas formas de lidar com a questão do gênero, que não estejam fixadas na oposição homem/mulher, isto é, que se abram para a multiplicidade e o desfazimento dos estereótipos veiculados pelas tecnologias de gênero, como o cinema, a TV e a própria literatura.

 

Palavras-chave: crítica feminista, gênero, reescrita.