DEFESAS
RESUMO

 

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O MULTILINGUISMO NA ESCOLA: PRÁTICAS LINGUÍSTICAS EM UMA

COMUNIDADE DE IMIGRAÇÃO UCRANIANA NO PARANÁ

 

 

Jakeline A. Semechechem

 

jakeline.semechechem@gmail.com

 

 

Esta etnografia da linguagem busca compreender como alunos, professores e a comunidade escolar produzem o espaço sócio-político da língua brasileira de imigração - o ucraniano - e do multilinguismo em uma escola pública localizada em uma comunidade rural multilíngue no município de Prudentópolis, no Sudeste do estado do Paraná, Sul do Brasil. Os pressupostos teóricos que orientam este estudo compreendem a linguagem como prática social, o multilinguismo como um conjunto de recursos comunicativos ideologicamente carregados que constitui o repertório linguístico das pessoas, as práticas linguísticas como atividades semióticas realizadas por meio da linguagem, mercados linguísticos como não unificados, e políticas linguísticas produzidas pelas práticas e ideologias linguísticas. Os dados foram gerados em 2013, por meio de um trabalho de campo na escola em duas turmas, um 6.º ano do Ensino Fundamental e um 3.º ano do Ensino Médio, e em todo o ambiente escolar e na comunidade. A análise de dados descreve como os alunos, professores e funcionários mobilizam seus recursos linguísticos em língua ucraniana nas práticas de linguagem na escola, nas aulas e fora delas, e que valores são associados a esses recursos na comunidade. Os dados mostram que há similaridades e diferenças nas duas turmas. Embora majoritariamente em ambas as turmas as práticas linguísticas que envolviam a língua ucraniana fossem realizadas pelos alunos em conversas subordinadas às atividades e em participações adjetivadas como exuberantes, no 6.º ano, alguns meninos costumavam se alinhar a pisos conversacionais sobre a pauta da aula e cossustentados com os professores e com toda a turma por meio da língua ucraniana nas aulas de línguas, e no 3.º ano, tendo em vista a maior ocorrência de conversas subordinadas às atividades, o uso da língua ucraniana era mais visível. Para além das aulas, as práticas linguísticas que envolviam a língua ucraniana também aconteciam entre funcionários e professores, e textos com escrita em cirílico circulavam pela escola. Em relação a variável das práticas linguísticas entre as duas turmas, uma iniciante do Ensino Fundamental e outra concluindo o Ensino Médio, além de estar relacionada a idade dos alunos, aos repertórios linguísticos dos participantes, aos modos de participação nas aulas, ela aponta para uma política linguística local que possibilita o uso da língua ucraniana e o multilinguismo em alguns momentos das aulas e na escola e outros como espaços para línguas oficiais. Na comunidade, há línguas ucranianas que estão articuladas a valores e grupos sociais distintos. A língua ucraniana local, que constitui o repertório da maioria dos alunos, professores e funcionários, é associada a uma identidade de ucraniedade local, ao rural e tem valores associados às práticas sociais locais e como símbolo de pertencimento, com incipiente valor de produto cultural local e translocalmente, enquanto para um pequeno grupo a língua ucraniana culta tem valor como capital linguístico local e translocal e representa mobilidade linguística translocalmente. Defende-se nesta tese que na produção do espaço sócio-político da língua ucraniana na escola, as práticas linguísticas, valores das línguas e as ideologias linguísticas subjacentes tencionam em políticas linguísticas locais para o monolinguismo e para o multilinguismo. O espaço sócio-político da língua ucraniana e do multilinguismo na escola contribui para cossustentar, principalmente valores locais das línguas ucranianas e da cultura da comunidade.

Palavras-chave: multilinguismo; língua ucraniana; Prudentópolis; práticas linguísticas; políticas linguísticas.

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