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ASSASSINAS DE MARIDOS NO TRIBUNAL DE GUIMARÃES ROSA: MARIA MUTEMA, MULA-MARMELA E FLAUSINA

Fernanda de ANDRADE

fmetamorfose@gmail.com

 

Canônico, experimentalista, agregador de símbolos cifrados de diversas tradições, João Guimarães Rosa introjetou frescor ao regionalismo e à literatura brasileira, o que se deve, sobremaneira, à tessitura de como amalgamou os modelos simbólicos universais para falar do mais pitoresco, o sertão mineiro. O patriarcalismo sertanejo irrompe como um microcosmo das relações culturais de poder e de opressão, que historicamente forjaram a construção do ser social da mulher. Refratando um mundo violento e hierarquizado, onde se mesclam fé e violência, onde são rarefeitas as chances de emancipação, sua obra oferece personagens femininas flagradas utilizando diversificadas estratégias de resistência e de revide na luta pela sobrevivência. Nesta dissertação, atenta-se para três mulheres, que ultrapassaram os limites mais sacros dessa ordem social e cultural, representados pelo homicídio de seus maridos. Percebe-se o farto material que elas oferecem para o estudo das ideologias de gênero, uma vez que revelam e chegam a inverter alguns dos paradigmas centrais outorgados pelo patriarcado, como a fragilidade e a subserviência. Em recorrência, três emblemáticas personagens, que assassinam seus maridos ou arquétipos de maridos, forjam o corpus deste trabalho, Maria Mutema, Mula-Marmela e Flausina. A primeira faz parte de um episódio incrustado no romance Grande Sertão: Veredas (1956), que a narra como assassina confessa do padre e do marido, entre outras subversões. No conto A benfazeja, de Primeiras estórias (1962), aparece a segunda mulher, que mata o seu companheiro e o enteado. Por sua vez, a última é uma narradora autodiegética, que conta como “ceifou” a vida dos quatro homens da mesma família, com que mantinha relações maritais e/ou de submetimento. Trata-se do conto Esses Lopes, integrante do livro Tutaméia (1967). Com efeito, à luz da Crítica Feminista e com a contribuição de teóricos como Pierre Bourdieu (2005) e Jacques Derrida (2004), inclinados a investigar o julgamento cultural da condição feminina, perscrutou-se a representação dessas três personagens, de suas regularidades em termos de transgressão, inclusive com uma gradação emancipatória até Flausina. Buscou-se mostrar como concatenam símbolos muito caros à história das mulheres e exercitam diferentes ferramentas do feminismo crítico.

 

Palavras-chave: “Crítica feminista”; “Guimarães Rosa”; representação feminina.

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