DEFESAS
RESUMO

 
dissertação completa

IDENTIDADE E LIVRO DIDÁTICO: MOVIMENTOS IDENTITÁRIOS DO 

PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA

Denise Gabriel Witzel

Nesta pesquisa qualitativo-interpretativista investigamos a construção da identidade do professor de língua portuguesa a partir de um olhar através do livro didático. Adotando uma perspectiva teórica que se insere na Análise do Discurso de linha francesa, analisamos o discurso dos manuais didáticos a fim de verificar, na rede interdiscursiva que envolve a ação docente, as imagens de professor que esses livros constroem. Dividimos, pois, nossa dissertação em duas partes. A primeira levanta as condições de produção do livro didático no cenário educacional brasileiro, contextualizando, assim, a emergência do problema. Apresenta, também, os pressupostos teóricos que darão suporte para as análises que constituem a segunda parte do trabalho. Nossa premissa básica se sustenta na idéia de que a identidade do sujeito se constrói através da alteridade e de que o discurso do sujeito é inevitavelmente atravessado pelo discurso do outro. Por isso, buscamos, em um primeiro momento, atentar para as múltiplas vozes que coexistem no discurso do professor de português, com vistas a compreender a auto-imagem desse docente, considerando, prioritariamente, a concepção que ele tem de si mesmo, de seu trabalho e do livro didático. Na seqüência, apresentamos e discutimos as concepções de professor que vazam no discurso dos autores dos livros didáticos e, finalmente, examinamos uma aula de língua portuguesa com o objetivo de verificar como se dá, na prática, o encontro do professor com o livro no espaço da sala de aula, onde ambos adquirem razões de existência. Os resultados de nossa investigação sugerem que nos discursos dos professores de língua portuguesa vêm à tona vozes que nos permitem evidenciar múltiplas imagens, apontando para a constituição heterogênea e, ao mesmo tempo, paradoxal do sujeito-professor. Os discursos inscritos nos livros didáticos deixam entrever a imagem de um sujeito-professor pretensamente homogêneo, mal formado, despreparado, executor acrítico de aulas preparadas pelos autores desses manuais. O confronto entre o discurso do professor e a sua atuação pedagógica mostra que a voz do autor do livro didático encobre a voz do professor. Daí concluirmos que, inconscientemente ou não, o professor oculta-se atrás da legitimidade e da autoridade dos manuais ou, em outras palavras, a valorização do livro como instrumento essencial, como tecnologia educacional básica, desloca o professor para o "lugar do morto" (NÓVOA, 1995).