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POÉTICAS DO DESLOCAMENTO: REPRESENTAÇÕES DE IDENTIDADES FEMININAS NO BILDUNGSROMAN DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEO

 

Wilma dos Santos Coqueiro

wilmacoqueiro@gmail.com

 

O romance como uma grande instituição sócio-literária, que projeta os ideais da classe burguesa, a partir do século XVIII, torna-se a expressão máxima de modernidade. Esse gênero, caracterizado pela sua maleabilidade e ambivalência, reflete uma orientação individualista e inovadora. Nesse sentido, os romances de personagem dão origem a subtipos, como o Bildungsroman, cujo modelo paradigmático seria Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister (1795), do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe. Por ser o romance um gênero em constante devir, o conceito de Bildungsroman passa por problematizações e revisões e, na atualidade, pode-se falar de um romance de formação que inclui as minorias étnicas, raciais e sexuais. Alguns passos importantes no Bildungsroman masculino, como a realização amorosa a partir de várias experiências e a descoberta da vocação profissional e de uma filosofia de vida, se revelam ainda problemáticos nos romances de formação femininos no decorrer do século XX, devido ao pouco espaço destinado à mulher na sociedade, fazendo com que suas experiências formadoras fossem mais subjetivas, culminando, na maioria das vezes, no final fracassado das personagens que não conseguem fugir às teias da opressão social. À questão que subjaz essa pesquisa –  se o romance de formação feminino pode inovar no século XXI apresentando trajetórias de mulheres sujeitos – corresponde à hipótese de que nos romances analisados há um processo de subjetificação das personagens femininas no qual as experiências formadoras ocorrem por meio dos deslocamentos espaciais e identitários, característicos da época contemporânea. Se no decorrer do século XX, as heroínas ainda sentiam fortemente o peso da tradição patriarcal, tendo que, não raras vezes, abrirem mão da integração social em nome da individualização e realização do eu, como a Conceição de O Quinze ou a Joana de Perto do coração selvagem, nos romances de formação femininos do século XXI – como Pérolas Absolutas (2003), de Heloísa Seixas, Algum Lugar (2009), de Paloma Vidal, e Azul-corvo (2010), de Adriana Lisboa, – em meio à globalização e ao desmantelamento das grandes utopias e verdades, elas vivenciam outros conflitos e problemáticas resultantes da fluidez das relações humanas no mundo contemporâneo. Por ser um trabalho que se insere na linha de pesquisa “Literatura e construção de identidades”, a leitura e análise do corpus escolhido respalda-se sobretudo nos aportes teóricos dos Estudos Culturais e da Crítica Feminista. Espera-se com essa tese contribuir para com os estudos da crítica feminista contemporânea, ao mostrar que as personagens do cenário pós-moderno, na sua busca de subjetificação, passam por experiências de deslocamento e esfacelamento de identidades, mas buscam, apesar dos percalços, uma construção de si como mulheres.

 

Palavras-chave: Bildungsroman de autoria feminina contemporâneo; Crítica feminista; Subjetificação.