DEFESAS
RESUMO

 

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RESUMO

 

Taynara Alcântara Cangussú

taynara.cangussú@ifpr.edu.br

 

 

Na aquisição da escrita, sobretudo na escola, as crianças são constantemente chamadas a produzirem enunciados escritos que atendam a propostas de produção de gêneros diversos. Capristano e Oliveira (2014), ao lançar olhar para sete enunciados escritos por crianças a partir de uma dessas propostas, observaram que os escreventes direcionavam um mesmo enunciado para mais de um Outro/destinatário. Ao fazer essa observação, elas consideraram que marcas que indiciam essa oscilação no endereçamento poderiam ser tomadas como pistas de relações intergenéricas e, consequentemente, da constituição histórica dos enunciados. Partindo dessa hipótese, decidimos investigar marcas linguísticas que indiciariam o endereçamento de enunciados escritos por crianças do Ensino Fundamental I, analisando o funcionamento dessas marcas enquanto pistas de relações intergenéricas e, consequentemente, da constituição histórica e dinâmica desses enunciados. Esse objetivo mais geral desdobrou-se nos seguintes objetivos específicos: (a) examinar se a oscilação no endereçamento (linguisticamente mostrada) seria uma regularidade dos enunciados infantis produzidos nesse período ou apenas uma particularidade de alguns enunciados e (b) investigar possíveis motivações (linguísticas, pragmático-enunciativas e/ou discursivas) para a emergência dessas oscilações. Para tanto, foram analisados 274 enunciados infantis, recolhidos a partir de seis propostas aplicadas na antiga quarta série no Ensino Fundamental I. Essa análise foi pautada em um referencial teórico que contempla, principalmente, os trabalhos de Bakhtin (2011), Corrêa (2004, 2006, 2011, 2013), Authier-Revuz (1982) e Capristano e Oliveira (2014) e foi direcionada pelos princípios teórico-metodológicos do paradigma indiciário, como proposto por Ginzburg (1986, 1993, 2007). A partir dela, pudemos observar que: (a) em uma quantidade significativa dos enunciados examinados (66%), existiam marcas que apontavam para um endereçamento complexo, envolvendo dois ou mais Outros/destinatários em um mesmo enunciado; (b) numa direção oposta, em parte dos enunciados examinados (34%), não foi possível observar, na dimensão estritamente linguística deles, marcas que apontassem para um endereçamento complexo, ou seja, esses enunciados constituíam-se, pelo menos de forma aparente, como monologicamente endereçados; (c) a oscilação no endereçamento dos enunciados analisados envolviam Outros/destinatários diferentes, a depender, sobretudo, da proposta de produção textual, ou seja, a proposta de produção é um fator importante na maior ou menor incidência de oscilação; (d) a instituição escolar motivava as oscilações tanto enunciativo-pragmaticamente, quanto discursivamente; (e) as marcas linguísticas que indiciavam a oscilação no endereçamento apontavam também para a circulação do escrevente por práticas orais/letradas, faladas/escritas, principalmente, das esferas publicitária, escolar, televisiva e cotidiana; (f) as oscilações no endereçamento podem estar atreladas ao fato de esse aspecto dos gêneros discursivos ser um presumido social (cf. Corrêa, 2011).

                                                                                                                           

 

Palavras-chave: Aquisição da Escrita. Gêneros discursivos. Endereçamento. Relações Intergenéricas.

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