DEFESAS
RESUMO

 

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RASURAS LIGADAS À SEGMENTAÇÃO DE PALAVRAS NA ESCRITA INFANTIL

 

 

Tatiane Henrique Sousa-Machado

tatiane@unipar.br

 

Durante o processo de aquisição da escrita, a criança, para escrever de acordo com o esperado pelas convenções ortográficas, deverá descobrir que alguns espaços em branco são responsáveis pela delimitação de palavras entendidas do ponto de vista morfológico. Nesse percurso, em alguns momentos, essa criança pode voltar-se sobre o material escrito, deixando marcas de possíveis dúvidas quanto à segmentação, denominadas, neste estudo, de rasuras. As rasuras – representadas por apagamentos, escrita sobreposta, inserções, dentre outras marcas – podem ser entendidas como lugares de conflito que materializam a divisão enunciativa do escrevente entre possibilidades abertas pela língua (CAPRISTANO, 2013, 2014). Fundamentados, por um lado, na perspectiva teórica assumida por Capristano (2013, 2014) para o exame de rasuras ligadas à segmentação e, por outro, em trabalhos de Corrêa (2004 e 2013) sobre a heterogeneidade da escrita, esta pesquisa teve por objetivo apresentar e descrever possíveis fatores que concorrem para a emergência de rasuras ligadas à segmentação, em produções textuais elaboradas por crianças da primeira etapa do Ensino Fundamental I, ao longo de quatro anos, verificando tendências (quantitativas e/ou qualitativas) para o aparecimento dessas rasuras no decurso da aquisição da escrita infantil. Para tanto, foram analisadas 1699 produções textuais, coletadas em 55 diferentes atividades de produção escrita. Com base em princípios teórico-metodológicos do Paradigma Indiciário (GINZBURG, 1989), foi possível observar que as rasuras são mais recorrentes nos dois primeiros anos considerados e que diminuem nos anos subsequentes. Além disso, constatou-se que, indiferentemente da série, os conflitos vivenciados pelas crianças sobre como segmentar, de modo geral, partem de uma escrita hipossegmentada, ancorada em práticas orais, rumo a uma escrita convencional, fruto, possivelmente, da influência das práticas letradas das quais as crianças participam. Também foi possível perceber que, de modo geral, nos casos em que o último gesto indiciado pela rasura não atendia à convenção e resultava numa hipersegmentação, o escrevente parecia interpretar a sílaba pretônica de algumas palavras como um clítico, apontando para uma forte influência das práticas letradas, mesmo em ocorrências tradicionalmente consideradas “erros”. Pudemos, enfim, concluir que a criança, ao longo da aquisição da escrita, quando precisa definir onde alocar espaços em branco, lida com conflitos inerentes à heterogeneidade da língua (e da escrita) e, para resolvê-los, ancora-se em diferentes influências das práticas orais, mas, no caso das rasuras, principalmente em influências advindas das práticas letradas.

Palavras-chave: oralidade; letramento; escrita; rasura; segmentação gráfica.