DEFESAS
RESUMO

 

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RESUMO

 

Na prática do cuidado de si, somos lançados por Foucault, em seus dois últimos anos de cursos no Collège de France, à problemática da coragem da verdade. De fato, esse estudo nos apresentará o conceito de parresía como estudos históricos na cultura grega, dos trágicos aos cínicos, passando pelos filósofos políticos. O conceito de parresía seria a prática de liberdade da linguagem, o dar a liberdade de falar francamente. Foi o funcionamento dessas práticas que instigou o ponto central dessa pesquisa, que foi investigar as práticas éticas (cuidado de si) que permitem ao sujeito Carlos Marighella ser considerado um parresiasta. Nossa justificativa para tal pesquisa está calcada em dois pontos. Primeiro, na condição de explorar, pelo viés discursivo, a história dessa personagem importante do período da ditadura militar no Brasil. Em segundo lugar, como a verdade não é alcançável pelo sujeito no simples ato de conhecimento e que para ter acesso a essa verdade o sujeito tem de olhar para si mesmo, exploramos as práticas do cuidado de si, na constituição desse sujeito como um possível parresiasta. A pergunta de pesquisa que norteou o trabalho foi: Como certas práticas éticas (cuidado de si), as quais Marighella se “subjetivou” para se constituir como um sujeito moral (arte de existência), cujas ações constituiriam um determinado código (a luta pela liberdade), poderiam “autorizá-lo” a ser um sujeito que estaria apto a praticar a parresía? Para tanto, temos como objetivo geral: Investigar as práticas éticas (cuidado de si) que permitem a Marighella ser considerado um parresiasta. Como objetivos específicos pensamos em: 1) Descrever as condições de produção do corpus; 2) Refletir sobre as práticas de subjetivação (ética da existência) para o governo de si e dos outros; 3) Analisar o discurso de Marighella, apontando indícios que comprovem esse discurso como parresía. A metodologia de pesquisa adotada para o presente trabalho parte dos princípios teóricos propostos por Michel Foucault. Dessa forma, pensando na “posição sujeito” guerrilheiro e no que se manteria de regular na possível descontinuidade do nosso corpus, a organização e entrada nas séries enunciativas procurou ser feita pensando numa “regularidade” que estivesse pautada pelo ato de resistência do sujeito frente à tirania da Ditadura Militar no Brasil. O aporte teórico ficou a cargo da Análise de Discurso, utilizando-se de reflexões desenvolvidas por Michel Foucault que consideramos produtivas para a área. Para cumprir os objetivos desse trabalho, foi constituído séries selecionadas de um corpus contemplando as seguintes obras: Porque resisti à prisão: A primeira edição é de 1965. Utilizaremos a 3ª edição, de 1995. Manual do guerrilheiro urbano: Escrito em 1969. Circulou em versão mimeografada. Tal escolha do corpus foi guiada pelo que Foucault explica sobre o material que temos que nos debruçarmos. Segundo o próprio filósofo, antes de se ocupar de uma possível homogeneidade discursiva inscrita, por exemplo, numa só obra, o material a ser analisado deveria ser, antes de tudo, considerado como uma “população” de acontecimentos. Desse modo, diante das análises das séries enunciativas que compõem o corpus, foi possível considerar que Marighella foi um sujeito que fez uso da parresía diante de toda uma tirania, por meio das práticas éticas que o constituíram como sujeito de um discurso de resistência, por meio dos exercícios que permitiram um desvio do olhar, a partir do qual Marighella cuidou de sua alma e de seu corpo para um efetivo governo dos outros.

 

Palavras-chave: cuidado de si; parresía; Marighella.