RESUMO

Murilo Filgueiras Correa

professormurilo@live.com

O objetivo do estudo é ponderar sobre os processos de leitura, recepção e adaptação dos dois primeiros volumes da série literária As Crônicas de Gelo e Fogo, A Guerra dos Tronos (2010) e A Fúria dos Reis (2011), do estadunidense George R.R. Martin, bem como das duas primeiras temporadas do seriado televisivo produzido pelo canal HBO, Game of Thrones, exibidas nos anos de 2011 e 2012. Para tanto foi necessário analisar a construção e caracterização das personagens, especialmente nas representações de figuras arquetípicas como herói e vilão, e também a reação de uma parte do público ao testemunhar as mortes, de certa forma, inesperadas de algumas personagens. Martin constrói suas personagens carregadas de caracterizações já canonizadas em determinados estilos de narrativa, o que gera, portanto, expectativas, em geral, específicas naquele que lê ou assiste ao seriado; a ruptura dessas expectativas gera o enorme debate sobre quais seriam as reais temáticas que as obras expõem, coloca em xeque conceitos éticos e morais, e acaba por desestabilizar os horizontes de expectativa do público, obrigando-o a reestruturá-lo preenchendo os novos vazios criados pelo questionamento e desconstrução de instâncias semânticas e recepcionais há muito já estabelecidas. Os participantes do estudo foram selecionados em redes sociais virtuais e participaram voluntariamente da pesquisa, compartilhando suas reações e debatendo as polêmicas erguidas pelas obras. A fim de analisar as entrevistas, bem como fundamentar as ponderações sobre a escrita de George R.R. Martin, o aporte teórico do estudo valeu-se das concepções sobre a Estética da Recepção propostas por Hans Robert Jauss (1994), dos conceitos sobre leitura e leitor de Wolfgang Iser (1996, 1999), de especificações técnicas e suas projeções semânticas apontadas por Umberto Eco (1994) e Yves Reuter (2011); tal como os conceitos sobre adaptação entre mídias de Linda Hutcheon (2011), sobre a cultura da convergência por meio dos textos de Henry Jenkins (2009). Os resultados indicaram que a recepção das obras por parte do grupo de entrevistados foi composta por um misto de surpresas, decepções, desestruturação e restabelecimento de convenções e horizontes de expectativa. Os participantes efetivamente demonstraram a incorporação de novas maneiras de reagir e interagir com uma história, proporcionadas pela leitura e pelo seriado, e como estes novos efeitos estéticos podem vir a influenciar suas próximas leituras. A partir do presente estudo, a possibilidade de revisão e novos debates acerca de representações arquetípicas de herói e vilão, bem como de suas trajetórias dentro da narrativa dramática, mostra-se plausível para o estabelecimento de novas questões e futuras ponderações, uma vez que um dos grandes trunfos de Martin entre seus leitores e espectadores é justamente as surpresas, ditas, desagradáveis enquanto adversas a convenções narrativas há muito estabelecidas.