A ESCRITA DO GÊNERO NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA: UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA COM ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM SITUAÇÃO DE RECLUSÃO

 

 

Maria Helena dos Santos Pelizaro

mhpelizaro@hotmail.com

 

 

Esta pesquisa-ação, no contexto da Linguística Aplicada, de cunho qualitativo-interpretativo, volta o seu olhar para alunos do Ensino Fundamental e Médio do Centro Estadual de Educação Básica de Jovens de Adultos “Professora Tomires Moreira de Carvalho” EFM, que funciona no interior da Penitenciária Estadual de Maringá (PEM). A escolha por esse espaço educacional se deu por eu atuar como professora da área de Língua Portuguesa, nessa escola; e, por estar à frente desse trabalho, despertou-me o interesse em desenvolver uma pesquisa que pudesse responder à seguinte pergunta: Como posso contribuir para um ensino-aprendizagem de escrita em língua materna mais significativo a sujeitos adultos em situação de reclusão? Assim, o objetivo desta dissertação é contribuir, em termos gerais, com as reflexões sobre o processo de escrita em contextos de sala de aula, que toma o texto como lugar de interação social que se concretiza nos gêneros textuais. Para tanto, a fundamentação teórica ancora-se na concepção interacionista de Bakhtin e Volochinov (1990), Bakhtin (2003) e Vygotsky (1988, 2001), que apresentam a linguagem como forma de interação entre os sujeitos e o professor como mediador do processo ensino-aprendizagem. Por sua vez, a opção metodológica - oficinas pedagógicas de Freinet (1991) e Elias (1997), discutidas e organizadas por Zanini (2008), entre outros estudiosos, justifica-se por considerá-las uma atividade pedagógica em que interagem professores e alunos, visando ao trabalho coletivo compartilhado. A especificidade dos alunos envolvidos justifica a escolha do gênero textual narrativa autobiográfica por proporcionar aos sujeitos um melhor conhecimento de si próprios, a ampliação do seu conhecimento do mundo e a ressignificação de fatos vivenciados. Ao final do processo, constato - como provam os resultados obtidos - que houve desenvolvimento das competências comunicativas dos alunos em relação à leitura e à escrita, uma vez que os textos produzidos demonstram atendimento às especificidades do gênero, tanto no que se refere à estrutura composicional, ao conteúdo temático e ao estilo de linguagem, quanto à função social desse gênero. Ao assumirem o direito à palavra escrita, o seu dizer está relacionado às circunstâncias de sua produção e, assim, têm o que dizer, razões para dizer, compreensão de como dizer e quais os interlocutores de sua produção. Concluo que a maneira de propor as atividades de escrita interferiu de modo significativo nos resultados alcançados, porque os alunos demonstraram atitude responsiva adequada à proposição do trabalho solicitado. Além disso, atende ao objetivo de contribuir para uma reflexão sobre o fazer pedagógico no processo ensino-aprendizagem de escrita em língua materna que urge por encaminhamentos metodológicos que possibilitem um ensino centrado na interação, mais significativo na formação dos educandos para o exercício de sua cidadania.

 

Palavras-chave: Narrativa autobiográfica; Oficina de produção textual; Situação de reclusão.