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RESUMO |
A PRODUÇÃO DE TEXTO NO CURSO DE LETRAS: DIAGNÓSTICO DO ENSINAR A ESCRITA
Márcia Cristina Greco Ohuschi
Neste trabalho, problematizamos a questão do ensino da produção textual na formação, em nível superior, do professor de Língua Portuguesa e realizamos um diagnóstico da formação que o acadêmico do curso de Letras da UEM recebe sobre o processo de ensinar a escrita. A partir desta temática, à luz da Lingüística Aplicada, na perspectiva sociointeracionista, embasada principalmente nos pressupostos teóricos de Bakhtin e Vygotsky e nos pesquisadores brasileiros que seguem esta vertente, temos como objetivo geral refletir sobre os estudos da produção textual na universidade, com o intuito de contribuir para a formação do professor de língua materna, na formação oferecida pelo curso de Letras. Assim, propomo-nos a apresentar uma pesquisa qualitativo-interpretativa, de cunho etnográfico e de natureza aplicada, ao acompanharmos uma turma da disciplina Prática de Ensino de Língua Portuguesa da UEM, no ano letivo de 2004, para analisar todo o trabalho envolvido com a prática de produção textual. Por meio de anotações feitas em caderno de campo, analisamos as discussões teóricas sobre o tema, as atividades práticas realizadas (dentre elas o estágio supervisionado) e os Diários Reflexivos, diagnosticando a concepção de escrita que ficou evidenciada. A escolha dessa disciplina específica se deve ao fato de ser, entre as demais, aquela em que o acadêmico deve pôr em prática os conhecimentos adquiridos durante o curso, em uma situação de ensino, ou seja, na regência de aulas nos Ensinos Fundamental e Médio. Os resultados das análises demonstram que não há influência das teorias lingüísticas sobre o processo observado, especificamente dos representantes da perspectiva sociointeracionista da escrita, como Bakhtin e Vygotsky, uma vez que não se trabalha com essas fontes teóricas, mas somente com as suas releituras. Em seguida, que as discussões e abordagens sobre os aspectos da interação e das concepções de escrita ocorrem de forma superficial e fragmentada. Nos estágios supervisionados, verificamos a predominância da concepção de escrita como conseqüência, apesar de alguns dos alunos observados se encontrarem em um momento de interface entre esta concepção e a concepção de escrita como trabalho. Nos Diários Reflexivos, percebemos as dificuldades que os acadêmicos possuem em constituir-se como o outro de si mesmos, pois não refletem sobre vários problemas apresentados em suas aulas de estágio ou o fazem de forma superficial. A própria grade curricular do curso de Letras da UEM não permite que os alunos construam uma concepção de escrita consolidada no decorrer da graduação, já que as disciplinas são estanques e, durante dois anos, eles não lêem, não discutem, não estudam sobre nenhum aspecto teórico da escrita. Esta lacuna se reflete na prática dos professorandos em sala de aula, pois, como verificamos nas atividades práticas, eles procuram inovar, mas não conseguem dar continuidade ao processo e recaem na concepção de escrita como conseqüência, demonstrando que o ensino tradicional de produção de texto está neles arraigado.
Palavras-chave: escrita; ensino; curso de Letras.
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