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A POESIA DE FLORBELA ESPANCA E SUA RECEPÇÃO: IMAGEM E CENÁRIO COMO FORMA DE REVELAÇÃO LÍRICA

 

Maria Alice Sabaini de Souza

marialiceprbr@hotmail.com

 

O estudo reflexivo da literatura relacionada com outras artes requer, primeiramente, a percepção do leitor. Por se tratar de produção humana, espelha visões do eu-lírico acerca de temas universais, em uma interação do texto literário com o cenário e o sentimento que o invade, suscitando no leitor a possibilidade da criação de imagens surgidas do próprio texto. Pretendemos verificar, partindo dessa idéia, de que forma a natureza, considerada cenário dos sonetos da poetisa portuguesa Florbela Espanca, influenciou no estado de espírito do eu-lírico, em alguns textos das obras poéticas Trocando Olhares (1915-1917), Sóror Saudade (1923) e Charneca em Flor (1931). A dissertação objetivou compreender quais são os recursos responsáveis pela relação do texto com a imagem e sua capacidade de revelar o estado de espírito do eu-lírico, bem como sua ação como fator extensivo. Florbela Espanca inicia suas publicações entre 1915 e 1917 e, segundo a crítica especializada, ela é “uma poesia viva” e admirável, porque se constrói, antes de qualquer coisa, pelo poder da verossimilhança, expressando a sua alma nas planícies do Alentejo. Observamos, claramente, a paisagem exterior e a paisagem interior em seus sonetos, as quais permitem ao leitor a construção de imagens como produtoras de sentido, configurando a conceituação acima apresentada. A importância de instituirmos uma leitura sob a vertente texto/imagem deve-se ao fato de que a literatura, ao estabelecer relação com as demais artes, propicia, por meio da linguagem imagística e dos recursos da retórica e da estilística, uma visão mais atualizada. De acordo com Joly (1996), vivemos na era da imagem e na visão mais aprofundada do texto, pois não nos detemos apenas na sua superfície, mas também naquilo que nos possibilita visualizar. A leitura ganha um caráter contemplativo, ao transpassar o papel e ao provocar a geração de imagens. A dissertação desenvolveu-se a partir de uma recuperação dos contextos socioculturais de Portugal no final do século XIX e no início do século XX, para melhor compreensão dos corpora selecionados, destacando-se os recursos retórico-estilísticos presentes nos sonetos. O suporte teórico são os pressupostos da Estética da Recepção (H.R.Jauss e W.Iser), as noções teóricas sobre o gênero lírico e o espaço poético, de acordo com M. Blanchot e G. Bachelard. Ocorre nos sonetos uma oscilação do espaço revelador (Trocando Olhares) para o espaço-refúgio (Livro de “Sóror Saudade”) e, por fim, para o espaço que liberta (Charneca em Flor). O cenário e os elementos noturnos são substituídos pela claridade e pela vivacidade dos elementos diurnos como o sol, as flores e os campos de trigo. A imagem e o cenário apresentam-se como forma efetiva de revelação lírica.

 

Palavras-chave: Florbela Espanca; cenário; recepção.