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RESUMO |
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PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM: DISCURSO LÍRICO-POÉTICO E SINTAXE NARRATIVA
Maiara Cristina segato Rocha Pereira
Clarice Lispector, em sua prosa inicial, Perto do coração selvagem, romance publicado em 1944, desestabiliza a tradição romanesca quanto ao tempo, ao espaço, ao enredo e, sobretudo, em relação à linguagem empregada, permeada por reflexões filosóficas a respeito da existência, frequentemente matizada de efusões lírico-poéticas, responsáveis também pela fragmentação do enredo. Entendemos que a união desses aspectos é o que a torna inovadora no quadro literário nacional, sendo apontada pela crítica como a primeira experiência definida que se faz no Brasil do moderno romance lírico. Nesse sentido, nosso trabalho se propõe a analisar o discurso lírico-poético e filosófico, a fim de demonstrar que a linguagem e a estruturação fabular ocasionam a fratura da factualidade temática, da linearidade cronológica, afastando a narrativa da estrutura romanesca tradicional, e diluindo, assim, as fronteiras de gênero, ao ponto de se falar, a propósito, em romance lírico, em prosa poética, entre outras formulações categóricas. Em um primeiro momento, abordamos a fortuna crítica de Perto do coração selvagem, no quadro de sua publicação inaugural, principalmente, destacando os aspectos de interesse neste trabalho, o lirismo, a poeticidade e o “filosofismo” (não raro “existencialista”). Na sequência, adentramos ao que denominamos “lirismo selvagem”. A discussão sobre como se opera a condição lírica do romance nos leva a situar a obra de Clarice no cenário literário nacional como inovadora em relação aos tipos romanescos em curso, notadamente o chamado romance psicológico lírico. A seguir, refletimos sobre aspectos poéticos teóricos de pertinência para nossas abordagens, bem como analisamos, de modo mais detido, a figuração lírico-poética e o “filosofismo” que perpassam os fios do enredo, atuando como elementos de desestruturação da sintaxe narrativa. Em termos metodológicos, a argumentação funde testemunho crítico-teórico (sobre categorias romanescas, discurso poético e estrutura narrativa) e análise textual, com o propósito de entender essa novidade ficcional pela intermediação do discurso híbrido e sua radical interferência na gramática narrativa. Pautamo-nos em estudos de, entre outros, Hênio Tavares, Massaud Moisés, Mikhail Bakhtin, Anatol Rosenfeld, Antonio Candido, Roland Barthes, Benedito Nunes, Olga de Sá, Rosa Maria Goulart, Luzia Berloffa Tofalini. Com este suporte buscamos entender Perto do coração selvagem como gênero “novo”, diferente, em constante “devir”, no quadro da ficção brasileira o século XX. Palavras-chave: Perto do coração selvagem; discurso lírico-poético; sintaxe narrativa
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