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ENTRE BANDOS E BESTAS: A LITERATURA PANC DE ANA PAULA MAIA

 

Lígia de Amorim Neves

ligiadeamorim@gmail.com

 

A violência cotidiana sofrida pelos animais e pelos personagens humanos subalternos dos livros de Ana Paula Maia não representa um lugar-comum no horizonte ficcional da escrita de autoria feminina contemporânea, mas, em tempos de pós-humanismo, a discussão dessa violência é urgente. Diante disso, este trabalho objetiva problematizar os dispositivos de poder que reduzem esses seres à condição permanente de vidas nuas e os confinam em espaços invisíveis tanto na literatura brasileira contemporânea de autoria feminina, quanto fora da ficção. Como corpus de pesquisa, analisamos as seguintes obras literárias que provocam essa discussão: Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos (2009) – composta pela novela com título homônimo ao do livro e pela novela intitulada O trabalho sujo dos outros –, e os romances Carvão animal (2011), De gados e homens (2013) e Assim na terra como embaixo da terra (2017). Os aportes teóricos e críticos desta tese abrangem, além da crítica e dos estudos literários, perspectivas do pós-humanismo e dos Estudos Animais, por responderem a essas questões a partir de pressupostos não hierárquicos. O estudo revela uma literatura que busca olhar para as fissuras da realidade e que, para tanto, opera descentramentos de gênero, espécie, classe, ocupação profissional, papel social, espaço e temática; e o faz por meio de uma linguagem rápida, visual, obscena e sem preciosismos, facilmente reconhecível por qualquer leitor/a. Com isso, podemos acessar essa arena e suas técnicas biopolíticas de sujeição da população em prol da sustentação da economia neoliberal, cujo sucesso não ocorre sem a degradação e a desvalorização de modos de vida. Concluímos, assim, que, por meio da naturalização da violência simbólica que arrasta humanos e animais para o mesmo plano, no qual não há possibilidade de cada um converter-se em sua própria natureza e desenvolver as potencialidades e especificidades de sua espécie – pois a sua vida pertence ao Estado –, a ficção em prosa de Ana Paula Maia amplia modos de pensar a literatura de autoria  feminina e convida o/a leitor/a a (re)pensar suas relações com essas outras corporeidades. Por isso, então, chamamos sua literatura de PANC, seja como uma sigla de Produção Artística Não Convencional, seja como uma alusão ao universo da biologia e suas Plantas Alimentícias Não Convencionais.

 

Palavras-chave: Estudos animais;literatura de autoria feminina; Ana Paula Maia

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