DEFESAS
RESUMO

 

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(IN)VISIBILIDADE DA VIOLÊNCIA E DO PRECONCEITO EM CIDADE DE DEUS E MINHA ALMA: REPRESENTAÇÕES E IDENTIDADES DO HOMEM NEGRO BRASILEIRO

 

João Carlos Mayer Rostey

jcrostey@bol.com.br

 

Este trabalho, vinculado ao Grupo de Estudos em Análise do Discurso da Universidade Estadual de Maringá – GEDUEM, tem como foco temático a constituição identitária e a representação do homem negro e favelado. Sob tal enfoque, compreendemos as identidades como processo e efeito de discurso, circunscritas a práticas discursivas midiáticas contemporâneas, estabelecidas por relações de saber e poder por meio das quais se operam dispositivos disciplinares em busca do domínio sobre os corpos, nos campos sociopolítico, econômico e cultural de uma sociedade, posicionando o sujeito e estabelecendo quando e qual lugar ele deve ocupar nesse processo. As reflexões e os estudos empreendidos nesta dissertação e que deram suporte a um movimento interpretativo-descritivo arqueogenealógico foram mobilizados pelos seguintes questionamentos: nas práticas discursivas midiáticas nacionais da contemporaneidade a representação do homem negro brasileiro institui-se na relação preconceituosa com o não-negro? Tal relação pode ser identificada na produção cinematográfica Cidade de Deus, de Fernando Meireles, e na produção videográfica Minha Alma, do grupo O Rappa? A nossa hipótese, com base em tais questionamentos, é a de que as mídias constituem um espaço de conflito de ordem política quando colocam em circulação discursos acerca do homem negro e favelado no Brasil em contradição com a memória constitutiva de que se vive, neste país, um regime de “democracia racial”. Como movimento teórico-metodológico, nossos gestos de descrição e de interpretação fundamentam-se nos conceitos erigidos pelo entrecruzamento da Análise do Discurso (FOUCAULT, 1962, 1986), dentre os quais os de enunciado, função enunciativa, prática discursiva, formação discursiva, arquivo, modos de subjetivação, memória (HALBAWACHS, 2004; COURTINE, 2006) e história; os estudos sobre imagem, representação e (in)visibilidade, na relação entre real e realidade (AUMONT, 1993; MANGUEL, 1997; DUBOIS, 2004); e as articulações acerca da identidade (HALL, 2000, 2003). No campo estético, as reflexões dialogam com os movimentos “Estética da Fome” e “Cosmética da Fome”, ambos de natureza política e sociocultural, tomando-se como referência os apontamentos de Rocha (1965) e de Bentes (2005). Sob tais princípios teórico-analíticos, estabelecemos como principal objetivo determinar como, pelo funcionamento discursivo verbal/visual/sonoro, as mídias cinematográficas e televisivas representam o homem negro brasileiro da favela carioca no filme Cidade de Deus e no videoclipe Minha Alma. Para tanto, observamos como os discursos imagéticos, com os seus mecanismos, entre eles enquadramentos, planos, focos, etc, produzem dizeres e não-dizeres, na opacidade de sua constituição. Assim delineada, a expectativa que se criou com o desenvolvimento desta pesquisa foi a de que ela pudesse contribuir com reflexões e discussões tanto sobre a temática e as implicações dela decorrentes (a discriminação racial e as políticas públicas de inclusão na e pela mídia) quanto sobre as possibilidades de abordagem temática em campos associados (linguístico, político e estético). Nas interfaces de diferentes linguagens, e na confluência da história com a memória discursiva, os resultados obtidos pelo desenvolvimento da pesquisa empreendida indicam que é a partir das mídias ora analisadas que se estabelece uma relação de força ou de resistência do imaginário coletivo sobre o homem negro brasileiro da favela carioca.

 

Palavras-chave: Identidade; Representação; Pobreza.