DEFESAS
RESUMO

 
Dissertação completa



HOMOSSEXUAIS, INSUBMISSOS E ALTERIDADES EM TRANSE: REPRESENTAÇÕES DA HOMOCULTURA NA MÍDIA E A DIFERENÇA NO JOGO DOS DISPOSITIVOS CONTEMPORÂNEOS DE NORMALIZAÇÃO

 

Jamil Cabral Sierra

jamilcasi@yahoo.com.br

 

O que proponho, nesta dissertação, é fazer um exercício de leitura de alguns enunciados engendrados pela mídia em torno da homocultura, que têm me deixado, sobremaneira, desconfiado. Assim, tento deslocar - em três ensaios que se filigranam e se complementam – estes ditos de “respeito e tolerância às diferenças que estão, em cena, construindo/representando as alteridades, de modo especial aquelas que pulsam fora da heteronormatividade, ou seja, a experiência de gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, drag queens... Para isto, recorto como corpus para este trabalho dentre um universo enorme de possibilidades - uma campanha publicitária de prevenção contra a Aids e uso de camisinha, promovida em 2001 pelo Programa DST/Aids, do Governo Federal, uma outra campanha, também lançada em 2001, pelo Ministério da Saúde, destinada à conscientização contra o preconceito às/aos travestis, bem como uma série de propagandas de divulgação da Parada do Orgulho Gay e de conscientização contra o preconceito à homocultura, promovidas por ONGs que defendem os direitos das/dos homossexuais, nos anos de 2001, 2002 e 2003. Nesta empreitada, inspiro-me e busco interlocução, a partir da perspectiva pós-estruturalista, nos Estudos Culturais, na Filosofia da Diferença, nos Estudos de Gênero, na Teoria Queer e nas reflexões foucaultianas sobre a noção de discurso, poder e (homo)sexualidades. Instigado e contaminado por estas interlocuções, procuro focalizar nestes enunciados os atravessamentos, a memória, as contra-palavras, os efeitos de sentidos produzidos por retóricas que se apresentam tão conciliatórias, plurais, fraternas e humanitárias. Tento questionar por que e para que eclodem estes discursos que são estandartizados em nosso tempo, a fim de controverter estas falas de solidariedade e generosidade, bem como destecer as linhas discursivas que costuram a idéia da necessidade de enquadramento do outro/estranho à norma. Recorto textos midiáticos como meu objeto de análise, porque vejo a mídia como um mecanismo poderoso de disseminação/inculcação pedagógica que, ao propagar enunciados nos quais representações da homocultura são construídas, faz suspeitar que as imagens contemporâneas da alteridade difundidas por ela apenas recolocam, sob outros enfoques e artifícios, a mesma vontade de colonização da diferença. Tento mostrar, portanto, que estes apelos multiculturais, que supõem a inclusão do diferente, nada têm de naturais, pelo contrário, são criações culturais sustentadas por um jogo discursivo que apenas rearticula, sob outras estratégias e pelos dispositivos midiáticos, o controle do corpo, a confissão do sexo, a formatação do gozo, enfim, a tentativa de expulsão da diferença.


Palavras-chaves: Homocultura, (Homo)
sexualidades, Discurso, Mídia, Diferença