COSTA, J.J.C da. Morena Teixeira: o fio da palavra e a tecitura da vida, 2019, 244 f. Orientadora: Profa. Dra. Lúcia Osana Zolin. Tese (Doutorado em Letras: Estudos Literários). Programa de Pós-Graduação em Letras – PLE, Universidade Estadual de Maringá – UEM, Paraná, 2019.

RESUMO

A presente tese realiza um estudo de manifestações de literatura popular de autoria feminina no Povoado Ilha do Ferro, zona rural do município de Pão de Açúcar – Alagoas, a partir das contribuições da artista Morena Teixeira, mulher negra, viúva, agricultora, nascida em 1926, poetisa e narradora nas modalidades oral, escrita e visual. O nosso objetivo geral foi o de estudar a contribuição artística de uma mulher, ligada ao campo do popular, como alguém que não somente produziu cultura, mas preservou a memória e a identidade daquela pequena sociedade que, ao tempo em que se hibridiza com outras culturas, preserva elementos que conferem singularidades das formas de vida e dos padrões que definem os saberes e fazeres que se mantêm vivos por ali. Este estudo busca fundamentação nas teorias que embasam o conceito de cultura, pelo viés multiculturalista, assim como em estudiosos/as da cultura popular, como também naqueles/as que discutem questões de gênero. Alguns clássicos que já desenvolveram pesquisas históricas no Rio São Francisco e, em especial, no Baixo São Francisco, também nos ajudaram a compreender nosso objeto de pesquisa. Entre eles, destacamos Bhabha (1998), Hall (2000; 2003; 2009), Semprini (1999), Benjamin(1994), Zumthor (2007; 2010), Hartmann (2011), Fernandes (2003; 2012), Cascudo (2004), Brandão (2015), Butler (2016). É uma pesquisa que se desenvolve numa metodologia qualitativa, em que utilizamos história de vida em pesquisa presencial, bem como rastros da obra multifacetada da autora. A tese vem preencher a lacuna de um estudo aprofundado naquele palco importante na composição do mosaico que compõe a cultura alagoana. Observamos que a cultura popular resiste e pulsa naquela região do país. Revela uma personalidade de grande importância para a preservação da cultura alagoana e em especial do Sertão sanfranciscano. Como acontece em toda obra de arte, o conjunto estético teixeireano também apresenta uma visão de mundo. As nossas análises nos levaram a crer que o seu universo poético ora transgride os padrões e rediscute os valores, ora traz ideias cristalizadas e fomentadas pela lógica do patriarcalismo. “Morena Teixeira, pau que rama, flor que cheira...” como ela própria se define, é uma mulher com uma estética de ser marcada pela superação. A arte, em sua visão mais pura, encontrou lugar propício de se realizar. O resultado é o constante vir a ser, contínuo, perene, como as águas do Rio São Francisco. Morena Teixeira, no apogeu de sua vida, ensina, passa valores, promove o riso, borda, pinta, desenha, faz bonecas de pano, poeta a vida de uma forma pretensamente singular e cheia de significados. A sua produção, fraudada na tradição do cancioneiro popular da tradição do Nordeste do Brasil, atravessa a modernidade e já se propõe, (in)conscientemente, pós-moderna, atual, em constante tensão entre o passado e o presente, pontuando o futuro da arte popular brasileira.

PALAVRAS-CHAVE:

Literatura Alagoana - Cultura Alagoana - Literatura Popular de Autoria Feminina - Morena Teixeira – Rio São Francisco - Ilha do Ferro – Multiculturalismo