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RESUMO |
Dissertação completa - Arquivo PDF
DISCURSO DIRETO E HIPOSSEGMENTAÇÕES NA AQUISIÇÃO DA ESCRITA Giordana França Ticianel
O objetivo desta pesquisa foi investigar possíveis relações existentes entre o uso do discurso direto e a emergência de hipossegmentações em produções textuais de crianças do Ensino Fundamental, examinando, para isso, o funcionamento dessas ocorrências com base na instância enunciativa em que foram produzidas: no próprio discurso direto (DD) e nos momentos classificados como outros contextos (OC). De forma mais específica, objetivou-se investigar, tanto quantitativamente, quanto qualitativamente, se haveria diferenças entre as hipossegmentações observadas no DD e em OC. O material investigado foi constituído por 3113 produções textuais elaboradas por crianças das antigas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental de duas escolas municipais. A pesquisa parte da concepção de escrita proposta por Corrêa (1997, 2004) – que a postula como constitutivamente heterogênea –, bem como compreende, à luz de trabalhos como Capristano (2007a, 2007b, 2010), Chacon (2004, 2009, 2013), Tenani (2008, 2010, 2011), Capristano e Ticianel (2014), dentre outros, que as hipossegmentações são indícios do trânsito dos escreventes por práticas orais e letradas. No exame quantitativo das hipossegmentações, observou-se que, em todas as séries investigadas, havia mais palavras envolvidas em hipossegmentação, bem como ocorrências de hipossegmentação, em OC do que no DD. Além disso, observou-se que as hipossegmentações, ao longo das quatro séries, se distribuíam de forma semelhante nas duas instâncias enunciativas. Esses resultados permitiram que se postulasse que, quantitativamente, não havia relação entre a presença de DD e o aparecimento de hipossegmentações. No exame qualitativo das hipossegmentações, foram investigadas se elas se associavam a limites prosódicos como os propostos por Nespor e Vogel (1986) e, se sim, a qual constituinte: grupo clítico (C), frase fonológica (Φ), frase entoacional (I) e enunciado fonológico (U). Dentre os principais resultados encontrados na análise qualitativa, constatou-se, em primeiro lugar, que a maior quantidade de hipossegmentações que não emergem como efeito da atuação de limites prosódicos estava localizada em OC. Em segundo lugar, daquelas que emergiam como efeito da atuação de limites prosódicos, a maior parte das que se associavam a limites de C, Φ e I apresentavam funcionamento bastante semelhante, tanto no DD, quanto em OC. Por fim, pôde-se observar que as hipossegmentações que se associaram a limites de U estavam relacionadas diretamente à instância enunciativa da qual emergiam, pois havia uma quantidade muito superior de ocorrências no DD. Esse resultado liga-se ao fato de o U ter suas fronteiras relacionadas a fatores prosódicos e sintáticos, fatores que também se relacionam às fronteiras dos trechos em DD. Pôde-se concluir, a partir de toda investigação realizada, que uma multiplicidade de fatores permite a emergência de hipossegmentações. Todavia, em algumas delas, certos fatores se mostram mais relevantes, por exemplo, as instâncias enunciativas em que os escreventes enunciaram. Essas instâncias podem ser, assim, por vezes, determinantes para a emergência de certos tipos de segmentações não convencionais. Palavras-chave: Aquisição da escrita; Hipossegmentação; Discurso direto.
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