DEFESAS
RESUMO

 

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A MULHER ESTUPRADA COMO OBJETO DO DISCURSO: ANÁLISES SOBRE ENUNCIADOS JORNALÍSTICOS

 

Fernanda BonomoBertola

fernandabonomo@hotmail.com

 

Nesta pesquisa, objetivamos analisar o modo como a mulher estuprada é discursivizada no discurso jornalístico brasileiro. O ponto de partida para este trabalho é um caso de estupro coletivo ocorrido no Rio de Janeiro em maio de 2016 contra uma jovem, que nos provocou indignação e despertou para números de estupros contra a mulher no Brasil que geram angústia permanente em algumas mulheres, aspectos que justificam a escrita deste trabalho. Visto como acontecimento discursivo, por materializar discursos, neste caso, jornalísticos, o referido caso possibilitou pensarmos outros enunciados a partir de então, até março de 2019, para analisarmos, em materiais pretensamente neutros, processos de objetivação da mulher que sofre estupro. A mídia jornalística, entendida  como  um  espaço  social, faz  circular discursos,  com moldura de verdade, sobre estupros contra a mulher e mulheres estupradas, por isso buscamos compreender se e em que medida essa prática colabora para a perpetuação de uma sociedade patriarcal que tenta dominar o corpo da mulher, onde esse crime encontra solo. Problematizando os discursos sobre o crime, esse trabalho se justifica por se fazer resistência diante de práticas de subjugação da mulher. Diante de um extenso arquivo com o qual deparamos, definimos como material de análise19reportagens e notícias que inferimos que tenham sido mais lidas dentre as publicações feitas pelos portais G1, R7, UOL e Folha de São Paulo. Chegamos a essa noção de que foram mais vezes consumidas por leitores, ao filtrar as matérias dos sites a partir de   chamadas   realizadas   em fanpages, por   exibirem   mais   comentários   e   curtidas –materialidades que não estão em análise, mas que foram utilizadas como critério de seleção. As leituras que realizamos foram feitas sob a perspectiva dos Estudos do Texto e do Discurso, por esta permitir que atravessemos a espessura material dos discursos, evocando os pressupostos teórico-metodológicos de Michel Foucault. Para responder às questões sobre quem é a mulher estuprada  que  aparece  nos  enunciados  jornalísticos e  quais  saberes  e  poderes  regem  o  modo como  a  mulher  estuprada  é  objetivada  no  discurso,  acionamos  principalmente conceitos constantes em duas fases do trabalho do filósofo, da arqueologia e da genealogia, em razão das discussões acerca do saber e do poder que fazem emergir discursos. Pelo viés arqueológico, é possível pensar a função enunciativa dos discursos.  Sob o olhar genealógico, procedemos à constituição do poder que se exerce. Para a viabilidade das análises, identificamos seis séries enunciativas, que   pressupõem regularidades   discursivas:   a) Substâncias   alucinógenas   e alcoólicas, b) Saber científico, c) Discurso político, d) Discurso de resistência, e) Virgindade, f) Mulher em voz ativa. Examinamos  as  mesmas  segundo  o  conceito  de  dispositivo  de  poder. Os aspectos dos materiais analisados, contendo efeitos de regularidades e rupturas, confirmam a influência de um poder patriarcal que gera dispositivos que regem construções discursivas acerca da divisão que identificamos entre sujeito mulher digna, sujeito mulher indigna e sujeito mulher estuprada.  Constatamos que, nesse sentido, as práticas jornalísticas não podem ser neutras como se pretendem. E ainda que deem espaço à resistência, continuam a colocar em circulação o discurso da culpabilização.

Palavras-chave: Discurso. Mulher. Estupro. Mídia jornalística. Dispositivo de poder.

 Crítica; representação do sujeito feminino; cinema documental.

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