DEFESAS
RESUMO

 

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A CULTURA REGIONALISTA EM CINZAS DO NORTE

E SUA TRADUÇÃO (CULTURAL) PARA A LÍNGUA INGLESA

 

 

Elerson Cestaro Remundini

 

cestaromim@hotmail.com

 

 

Este estudo reconstrói e avalia o aporte cultural particularizador (regionalista) de Cinzas do Norte e investiga a tradução inglesa (por John Gledson) deste romance, com o título de Ashes of the Amazon. Nos dois casos procura diálogos com a teoria privilegiando uma argumentação (frequentemente polêmica) centrada nos conceitos de cultura e de tradução, com seus desdobramentos taxionômicos e operacionais. Começa por entender que o homem se depara diariamente com necessidades que precisa suprir, e algumas, as “básicas”, são universais, visto que verificadas, em maior ou menor grau, em quaisquer agrupamentos humanos, em qualquer tempo. No entanto, cada sociedade atende a elas de maneiras distintas. As diferentes formas de atendimento a essas necessidades configuram fenômenos culturais. Daí dizermos que cultura é a forma de organização de um grupo e, consequentemente, sua marca identitária, que o particulariza em relação a outros grupos. Essa noção é essencial para este trabalho que, num primeiro momento, busca particularizar um determinado agrupamento: a população de Manaus e de seu entorno retratados no romance Cinzas do Norte, de Milton Hatoum. O homem de determinada época responde às suas necessidades de acordo com as condições do espaço em que vive e, assim, se constrói culturalmente.  É essa premissa que torna possível a particularização (aqui proposta) da cultura amazônica, manauara, tal como presente no informe romanesco. Essa particularização leva em conta, além de elementos da cultura material, os da cultura “imaterial”, que abarca costumes, padrões comportamentais, ideologia. Busca-se, portanto, no primeiro capítulo, de dois que compõem este estudo, estabelecer o recorte temático-cultural de Cinzas do Norte. Daí o romance ser tomado aqui como ficção regionalista, o que implica supor um espaço específico e um conjunto cultural a ele relacionado. Esse aporte é aqui recomposto pela identificação, classificação e avaliação de vários modelos simbólicos convertidos em linguagem carregada de informe cultural-ideológico. Entendemos que a língua é transmissora de ideologia e, por conseguinte, de cultura. O aporte teórico desta primeira etapa (basicamente sócio-antropológico) se alicerça nas contribuições de Clifford Geertz (1989) e de Luiz Gonzaga de Mello (2000), entre outros. Uma vez definido o conjunto cultural de Cinzas do Norte, abordamos, no segundo capítulo, Ashes of the Amazon, que complementa o corpus desta pesquisa. No plano da tradução cultural sondamos, com respaldo teórico, as soluções tradutórias aplicadas por John Gledson, a fim de verificarmos como se dá a tradução do aporte cultural do romance. Trata-se de investigar e avaliar modelos simbólicos (culturais) submetidos à tradução. Daí dizermos que a análise proposta vai além do aspecto linguístico da tradução, embora este também seja relevante para as questões referentes à tradução cultural. A avaliação das soluções tradutórias aqui se processa tendo em vista contribuições tanto da perspectiva estruturalista quanto da desconstrutivista de tradução. Os resultados da pesquisa apontam para o fato de que Ashes of the Amazon é, como pedem bons teorizadores, um “novo” texto, o que não impediu que os modelos simbólicos do original se fizessem presentes na tradução, porém com as diferenças culturais e linguísticas inerentes a quaisquer traduções. Podemos concluir, considerando a particularização regionalista, que a tradução resolveu suficientemente bem a realocação do informe cultural, favorecendo uma compreensão também satisfatória, da parte do leitor do inglês, do regionalismo amazonense, manauara.

 

 

Palavras-chave: Cinzas do Norte; particularização cultural; tradução cultural.