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RESUMO

 

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A TRADUÇÃO DE CONTOS POPULARES CLÁSSICOS COM ESCOPOS DEFINIDOS: UM PASSEIO PELAS VERSÕES IMPRESSAS DE CINDERELA SURDA (2003), RAPUNZEL SURDA (2003) E PATINHO SURDO

 

Carla Cristina Gaia dos SANTOS

carlinha_criz@hotmail.com

 

 

RESUMO

 

Os contos populares clássicos fazem parte do cânone universal e ao mesmo tempo local de cada comunidade, tornando-se elementos primordiais do capital cultural dos mais variados grupos. A cada nova tradução, um novo texto, uma maneira diferente de compreendê-lo. Em meio a este contexto de narrativas e mundos ficcionais que vão e vem, perpassando as mais variadas culturas, nos deparamos com traduções advindas de dentro das comunidades Surdas brasileiras. Cinderela, Rapunzel e o Patinho, que aqui não é mais feio, são mais uma vez reinventados, mas agora a partir de uma Cultura Surda, ou seja, partindo da experiência visual do sujeito surdo e trazendo elementos dessa identidade a partir da qual são traduzidos. Elementos estes que são visíveis não apenas na reconstituição fabular, como também, muitas vezes, se evidenciam na maneira como a história é narrada. Tais publicações originam-se com o escopo de registrar os contos clássicos sob o reflexo da identidade Surda, ao mesmo tempo em que contribuem para o fortalecimento de uma Literatura Surda. Pensar a recriação dos contos populares clássicos neste contexto implica, sobretudo, na compreensão das forças e tensões interagentes nestes meios. Dessa forma, a literatura traduzida, enquanto meio de expressão simbólica, enquanto produto de identidades capazes de construir significados socialmente reconhecíveis no meio em que circula, configura uma importante ferramenta neste processo de metafórica descolonização das identidades Surdas, as quais lutam ativamente por representatividade identitária e por maior reconhecimento após séculos de repressão ouvintista. Cinderela Surda (HESSEL; KARNOPP; ROSA, 2003), Rapunzel Surda (KARNOPP; ROSA; SILVEIRA, 2003) e Patinho Surdo (KARNOPP; ROSA, 2005) enveredam-se neste contexto, contribuindo com a afirmação de uma identidade linguística e cultural própria dos surdos via meio impresso, enquanto que a recriação de textos advindos das tradições orais acaba ganhando uma dimensão de resistência literária e de questionamento dos padrões que se impõem. Além do mais, as ilustrações presentes em tais publicações desempenham um papel importante na construção de CS, RS e PS, contribuindo diretamente com a formação de sentido nas narrativas. Assim sendo, partindo de uma concepção de tradução enquanto recriação para um propósito definido, esta pesquisa objetiva analisar como são construídas as recriações de contos populares clássicos a partir da Cultura Surda em suas versões impressas Cinderela Surda (HESSEL; KARNOPP; ROSA, 2003), Rapunzel Surda (KARNOPP; ROSA; SILVEIRA, 2003) e Patinho Surdo (KARNOPP; ROSA, 2005). Para tanto, nos utilizamos dos estudos de Hauser (1977), Lefevere (1992), Amorim (2005), Reiß e Vermeer (2013), Vermeer (1987; 1992), Hutcheon (2013) e Nord (1997), bem como buscamos referências em teóricos-pesquisadores do campo de Estudos Surdos, como Skliar (1997; 2005), pesquisadores da área de educação dos surdos e aquisição da linguagem, como Goldfeld (1997) e estudos sobre a surdez, como Sacks (2010). Também nos lançamos à luz de teóricos do contexto das literaturas pós-coloniais para compreender este momento de libertação e empoderamento sócio-educativo das identidades Surdas, entre eles Pratt (1999) e Bonnici (2000).

                                                                                                       

Palavras-chave: Tradução literária; Tradução como recriação; Literatura Surda impressa;

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