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RESUMO

 

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RESUMO

LAVOURA ARCAICA: CONFLITOS IDEOLÓGICOS, EROTISMO E RETÓRICA POÉTICA

 

Beatriz Pazini Ferreira

pazinibia2001@yahoo.com.br

 

Esta pesquisa tem como objeto de estudo a obra Lavoura arcaica (1975), de Raduan Nassar, e evidencia os conflitos envolvendo demandas ideológicas familiares rigorosas e a resistência rebelde de um jovem. Além disso, tem como objetivo analisar a retórica poética, que preside a informação erótica no romance e a presença do jogo estilístico, mediada pela poesia, a qual atenua informações eróticas mais tensas, mais polêmicas. Para o desenvolvimento deste trabalho, considera-se que o conflito familiar colabora para a personalidade tensa e lírica do narrador (autodiegético), André. A pesquisa é, basicamente, dialógica, pois aproveitamos a teoria e a crítica, em abordagem explicativa, para também descrever e analisar o romance como sendo híbrido (romance lírico) e erótico-poético. A dissertação está dividida em três capítulos correlacionados na exposição das relações entre conflitos ideológicos, erotismo e retórica poética. Para isso, identificamos o universo arcaico de Lavoura arcaica, como local de tensão em que o adolescente vive, sendo, pois, a subjetividade (marcada pela intromissão da poesia) germinada da aflição decorrente do confronto consigo (de André) e com a família. Abordamos a questão categorial (o hibridismo de gênero), a subjetividade do protagonista e do narrador e as ações eróticas centradas no drama íntimo do jovem, o qual expressa os descaminhos de seu embate moral e sexual, não por meio de linguagem denotativa, mas sim por meio do discurso lírico. Analisamos as várias situações de erotismo e de sexualidade (a obsessão sexual, o relacionamento com prostitutas, a masturbação, a zoofilia, a geofilia e o incesto) para compreender o adolescente obcecado por sexo, mesmo depois (como narrador), insistindo na subjetividade tensa, no tom confessional, emocional. A dimensão lírica aderente às manifestações sexuais surge problematizando o jogo de ideologias, o conflito psicoemotivo. A retórica poética funciona como recurso estilístico que “adjetiva” a condição do gênero romanesco, por isso, refletimos sobre a hibridez de Lavoura arcaica, sobre o discurso poético, retomando, ligeiramente, estudos de Hênio Tavares (2002) e Massaud Moisés (2012), entre outros. Utilizamos as contribuições de Georges Bataille (1987) e Otávio Paz (1994) para a compreensão do erotismo. Ainda, aproveitamos as lições de Genette (1975) e Friedman (2002) para entender a situação do narrador e do protagonista (André), sua sujeição à mesma subjetividade conflituosa, ao mesmo conflito moral, à mesma defesa intransigente de sua (i)moralidade suspeita; porém adepto, abertamente, à poetização de seus desatinos, visto apresentar mobilidade enunciativa sempre no encalço dos sinais da individualidade subjetivizada, da densidade poética. A hipótese geral, portanto, é que a retórica poética recobre o discurso erótico e inferimos que as ocorrências eróticas são, frequentemente, suavizadas pela intromissão da poesia, que pode induzir alguns a experimentar um impacto menor, diante da gravidade dos assuntos.

 

Palavras-chave: Lavoura arcaica; Conflitos morais; Erotismo; Retórica poética