|
RESUMO |
ROTA 66 EM REVISTA: AS RESISTÊNCIAS NO DISCURSO DO LIVRO-REPORTAGEM
Ariane Carla Pereira
Fazer um exercício de leitura do/sobre o texto jornalístico, a partir do livro-reportagem, é o que proponho nesta dissertação. Assim, em quatro ensaios que se complementam, tento deslocar o pensamento de que são o posicionamento "isento" do jornalista e o texto "objetivo/neutro" que conferem a esse discurso credibilidade. Para isto, entre inúmeras possibilidades, aproprio-me, como corpus, do livro-reportagem Rota 66 – a história da polícia que mata, do jornalista-escritor Caco Barcellos. Neste tipo de discurso – jornalístico, mas, também, literário e histórico – os conceitos de isenção, neutralidade, objetividade e imparcialidade, que regem o jornalismo diário, não estão (necessariamente) presentes. Constatação esta que, primeiramente, me instigou como jornalista. Afinal, de que maneira, então, esse sujeito-jornalista conquista o respeito dos leitores? E como o trabalho produzido por ele obtém credibilidade? A partir dessas inquietações, ensaio três considerações como pesquisadora/analista do discurso. Uma delas é a de que o jornalista ao escrever um livro-reportagem empreende duas frentes de resistência – a primeira em relação à instituição "jornalismo" já que, mesmo não seguindo a norma da objetividade, esse sujeito-jornalista aciona um fazer História ao narrar e descrever o cotidiano de um segmento da sociedade; e a segunda é do sujeito-cidadão que não aceita determinados acontecimentos/posicionamentos e os denuncia. Minha segunda consideração é que o jornalista-escritor coopta o leitor para a causa do livro-reportagem (que também é de quem escreve) ao colocar em cena não apenas dizeres próprios, mas, também, discursos outros que pertencem a formações discursivas iguais ou diferentes. Assim, ao mostrar que não é o único a pensar daquela maneira e de que ouviu muitas pessoas antes de chegar a uma conclusão, conquista respeito e credibilidade. A obtenção de tal confiança também é o mote da consideração de número três: a partir dela, aciono os conceitos aristotélicos de ethos e de pathos e procuro focalizar que paixões formam a personalidade/o caráter do jornalista-escritor Caco Barcellos. Mas, antes de lançar-me nesses empreendimentos (os três últimos ensaios), num primeiro momento, analiso os discursos dos jornalistas sobre o texto jornalístico. Esse ensaio, designei "Desvio" por ser um recorte de um outro corpus que é formado pelo dizer de jornalistas extraídas de respostas a um questionário sobre a prática e sobre o texto jornalísticos. Julgo esse "desvio" na "rota" geral do trabalho importante por esses enunciados mostraram-se atravessados pelo interdiscurso, pela memória discursiva acionada em que fluem conceitos de imparcialidade e de isenção. Meus dizeres, até aqui, evidenciam que interlocuções faço nessa empreitada e quem são meus óculos teóricos. Essencialmente, me apoio nos conceitos da Análise do Discurso derivada de Michel Pêcheux, embora me aproveite do pensamento foucaultiano sobre discurso, resistência e (micro)poder e, também, tome como apoio a perspectiva da pós-modernidade (principalmente, em relação ao sujeito e ao fazer ciência).
Palavras-chave: análise do discurso; discurso jornalístico; livro-reportagem; ethos, heterogeneidade. |