DEFESAS
RESUMO

 

 

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O PROCESSO DE SUBJETIFICAÇÃO DAS PERSONAGENS FEMININAS EM DISGRACE (1999), DE J. M. COETZEE

 

Angela Aparecida Gonçalves Oliveira

angeagoncalves@yahoo.com.br

 

Analisa-se no romance Disgrace (1999), de J. M. Coetzee, o processo de subjetificação das personagens femininas Soraya, Melanie e Lucy no contexto da política pós-apartheid na África do Sul e da pretensão masculina, através dos respectivos episódios em que estão veiculadas. A pesquisa investiga a resistência e as estratégias de revide da mulher que se afirma enquanto sujeito numa sociedade erigida e consolidada sobre os valores da cultura patriarcal e colonial. O romance revela a luta de grupos outrora dominantes que tentam encarar um mundo em profundas transformações na África do Sul que há pouco superou a política de segregação racial. No contexto pós-apartheid, a inversão das atitudes constitui a principal dificuldade para o homem branco assimilar, visto que a nova política está voltada para o resgate da identidade do negro, que agora representa a autoridade no país sul-africano. Investiga-se também a problemática envolvendo Lucy, a qual, na condição de mulher branca, mostra-se passiva após ser violentada sexualmente por um grupo de negros. O teor subjetificador dessa atitude se dá ao fato de Lucy tornar-se o espaço que concede a abertura para o espaço de encontro entre o branco e o negro. Portanto, o filho negro que ela carrega em seu ventre representa o início de uma nova política. Conclui-se que, apesar dos indícios de subjetificação, as mudanças ocorridas não surtiram muitos avanços e nem promoveram a igualdade na África do Sul. As leis de apartheid deixaram de existir no papel, mas a ideologia da segregação racial continua impregnada, tornando o processo de reconstrução ainda mais lento e doloroso para o negro. Além disso, a disparidade entre as classes sociais impede o progresso e o desenvolvimento do país. Esses fatos esclarecem que talvez sejam necessárias outras estratégias e tentativas de restabelecer a ordem na nova África do Sul. Em Disgrace, essa estratégia se dá paradoxalmente através da mulher silenciada, que se torna paradigma da reconciliação. O silêncio e a não-emancipação do sujeito feminino são os caminhos para a paz e a maneira pelo qual o branco poderá colaborar na reestruturação social do país sob a égide da subalternidade.

 

Palavras-chave: romance pós-apartheid; subjetividade; teoria pós-colonial.