DEFESAS
RESUMO

 

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USO DO VÉU ISLÂMICO: TÁTICAS, ESTRATÉGIAS E RESISTÊNCIA(S)

Ana Lúcia Dacome Bueno

analuciaveg@gmail.com

 

RESUMO

Para Michel Foucault (1997, 2013), o discurso consiste em prática de poder que, articulando estrategicamente linguagem e saber, se imprime nas mais diversas materialidades e se difunde por todo o tecido social. Desde a modernidade, o poder estatal assume essa forma difusa de gerir a população a partir de diversos saberes, a fim de extrair-lhe – com o mínimo de recursos ­– a máxima potência de trabalho. Contudo, em meio a essa articulação microfísica do poder, os sujeitos a serem governados podem também encontrar brechas para erguer resistência, criando espaços de luta contra o poder em todo lugar onde ele está. Depreende-se então uma arquegenealogia do discurso, cujo fim último é contribuir para o combate ao pensamento unitário. Seu aparato teórico-metodológico é fundamental para os Estudos Pós-coloniais, como um amplo campo investigativo, que se propõe compreender como o conhecimento foi/é instrumentalizado para a prática do imperialismo e de influências neoimperiais. É sobre essas bases que Edward Said (2007) e Chandra T. Mohanty (1984) apontam o funcionamento de uma hegemonia discursiva eurocêntrica acerca da cultura e sujeitos islâmicos que se mostram úteis para o contínuo exercício de sua dominação, desde o período colonial até os dias atuais. Segundo feministas islâmicas, os ecos de um estereótipo de mulher islâmica como deseducada e sem poder, que Mohanty encontrou funcionando em textos de feministas ocidentais da década de 1980, se estendem até os dias atuais no contexto de proibição de usos do véu islâmico na França, onde as mulheres islâmicas que vivem no país foram desqualificadas para falar acerca de suas próprias questões. Diante disso, buscamos construir um percurso que colocasse a pertinência do pensamento de Foucault para compreender como seria possível pensar estratégias de luta contra esse discurso hegemônico de estereótipo. Para tanto, 1) visitamos suas concepções de discurso, sujeito, saber, poder, verdade e resistência; 2) buscamos expor seus diálogos com os estudos pós-coloniais no que diz respeito à questão de um estereótipo de inferiorização das mulheres islâmicas, que demonstramos circular sob representações imagéticas da proibição do uso do véu islâmico na França, 3) apresentamos a noção de resistência pós-colonial, por meio das artes proposta por Bill Ashcroft (2001), a partir da qual nos deparamos com interessantes imagens do uso do véu na produção independente irano-americana A Girl walks home alone at night, objeto principal de nosso trabalho, enquanto materialidade discursiva e resistência feminista pós-colonial, cujos sentidos acerca do véu se distanciam do estereótipo de mulher islâmica. A partir do agenciamento da personagem principal, encontramos no filme sentidos outros acerca do uso do véu islâmico que – sob regulações de uma tradição cinematográfica ocidental – rompem, ao estabelecer um jogo tático e estratégico por meio da imagem, com estereótipo de mulher islâmica como um sujeito monolítico, ao mesmo tempo em que enfrenta a hegemonia discursiva. Esses sentidos postos a circular sob a forma de um cinema digital aparecem como um processo de resistência feminista híbrida e pós-colonial.

 

Caixa de texto:  

 

Palavras-chave: discurso imagético; mulheres islâmicas; resistência pós-colonial.

 

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