RELIGIÃO E POLÍTICA NO BRASIL: ANÁLISE DISCURSIVA DE COMENTÁRIOS ONLINE DE ELEITORES NO PLEITO PRESIDENCIAL DE 2010

Amarildo Pinheiro Magalhães

amarildomagalhaes@gmail.com

Política e religião sempre estiveram intrincadas na história da nação brasileira. Em face dessas condições de produção, a presente pesquisa tematiza os elementos religiosos nas eleições presidenciais de 2010, no Brasil.  Ao partir da indagação “Como se pode explicar, na conjuntura de um Estado laico, e com o aumento do percentual de pessoas que se declaram sem religião, que os elementos religiosos determinem a formulação dos discursos e práticas político-eleitorais no Brasil?”, tem por objetivo geral analisar, a partir dos processos de identificação, o funcionamento do discurso religioso cristão na formação e circulação dos discursos dos eleitores brasileiros a respeito da escolha de seus candidatos, na internet, nas eleições de 2010. A busca de respostas possíveis a essa problemática ancora-se teórica e metodologicamente na Análise de Discurso (AD) de linha francesa, derivada dos estudos de Michel Pêcheux, com contribuição de outros pesquisadores franceses e brasileiros tanto da perspectiva da AD quanto da área da Comunicação, caros à constituição de nosso referencial. O material foi delimitado a partir de comentários de eleitores no site de relacionamentos Orkut e no site oficial da candidata do Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff, principal alvo dos comentários de cunho religioso. Os gestos de análise desenvolvidos apontam que os sujeitos eleitores responsáveis pela autoria dos comentários são dominados pela forma-sujeito de direito, isto é, a forma-sujeito dominada pelo Estado, o qual veio substituir a Deus na transição do modo de produção feudal para o modo de produção de capitalista. Contudo, emergem elementos que assinalam que a identificação não se dá de maneira plena, ou seja, o sujeito de direito não funciona integralmente nesses discursos, há elementos que atravessam esse processo cuja origem está em formações discursivas estranhas aos saberes correspondentes a essa forma-sujeito. Postula-se que esse processo se explica pelo funcionamento da religiosidade como traço da chamada identidade nacional, isto é, ser cidadão de um país cristão é uma evidência associada ao imaginário de brasilidade, de modo que todo ato envolvendo a decisão dos rumos da nação acaba por perpassar os efeitos de sentido de religiosidade cristã associados à brasilidade. Em vista disso, a laicidade do Estado burguês, na conjuntura brasileira, é suplantada pelo atravessamento do cristianismo como discurso fundador, de modo que, a despeito dos elementos jurídicos, há algo que fala pela via do imaginário e do inconsciente junto aos cidadãos brasileiros e fornece-lhes a evidência de que os elementos religiosos cristãos não podem ser desmerecidos na definição dos rumos da nação. Trata-se da permeabilidade do religioso naquilo que se pretendia laico, impedindo qualquer forma de blindagem total.

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